Cheguei em casa e tudo estava
extremamente organizado. Os móveis no lugar, a cama feita, a louça lavada e as
roupas passadas guardadas no armário. Coloco minha bolsa do lado da porta e as chaves em
uma mesinha perto. Pergunto-me como tudo ficou tão vazio, quando no passado
eu costumava chegar e ouvir várias vozes ao mesmo tempo, a ponto de ficar
perdida e não saber para quem dar atenção. Lembro que chegava cansada de um dia
cheio de trabalho e ia para cozinha preparar o jantar, sem nem me importar.
Lembro que ficava perdida no meio das receitas que nunca davam certo e em algum
momento sempre vinha alguém dizer que eu era péssima naquilo e tomava todas as
colheres da minha mão, para logo em seguida me dar um beijo no rosto e dizer que
podia terminar por mim.
Agora
sou apenas eu parada na cozinha tentando decidir o que é mais fácil de fazer, a
única que sobrou para comer. Antes, costumávamos sentar na frente da tv após a
refeição e falar. Falar sobre o dia, sobre os problemas, as alegrias, tudo.
Agora só posso conversar comigo mesma. Sempre a minha voz rondando minha
cabeça. Fico deitada no sofá olhando as imagens transmitidas na tela, sem dar atenção
a nada, sem me deixar prender a nada. Passam alguns minutos, talvez horas, não
sei dizer, e estou entediada. Começo a procurar algo para fazer, algo para
varrer, para limpar, para ocupar o que resta.
Olho
no relógio e percebo que ainda são oito e quarenta da noite. Não consigo
dormir, nunca fui de ir para cama cedo. A impaciência começa a bater, começo a
me desesperar. O sentimento de solidão começa a se fazer presente, parece que a
cada dia mais forte. Quero conversar, abraçar, sentir-me segura de novo. Mas
não me resta nada. Só o vazio. Só as paredes brancas.
O
chão começa a ficar mais próximo, meu rosto está extremamente úmido, meu peito
aperta e não consigo respirar. Estou perdendo o controle. Prometi a mim mesma
que isso não aconteceria. Prometi que dessa vez seria forte.
Às
quatro e meia da madrugada estou acordada. Estou arrumando os lençóis que
arranquei, reorganizando a mobília que empurrei, chutei e tirei do lugar,
lavando a louça que já estava limpa e recolhendo os cacos de vidro do chão.
Estou organizando tudo outra vez, estou ocupando minha mente com a única saída
que me resta. Às cinco e meia eu termino e minha casa está impecável de novo.
Tomo banho e às seis e meia saio para o trabalho. Deixo aquilo que costumava
chamar de lar igual ao que estava na noite anterior. Sei que vai ser a mesma
coisa mais tarde, vou chegar, comer, sentar e quando perceber tudo vai estar revirado ou
quebrado e logo em seguida irie passar a madrugada inteira arrumando cada
mísero canto. Essa foi a forma que escolhi para lidar com a dor. Não é a
melhor, mas é o que me impede de sentir demais.
Por: Neilly Lucy
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